Por Roberto Frabetti (Tesoureiro ASSITEJ Internacional)
Tradução: Cleiton Echeveste (CBTIJ/ASSITEJ Brasil)
04 de fevereiro de 2020
Temos que seguir teimosamente a utopia da criança como cidadão, um indivíduo com plenos direitos, incluindo o direito de apreciar Arte desde os primeiros anos, o que significa também exercer o “direito de desejar”, do qual não podemos nem estamos dispostos a desistir.
A etimologia da palavra “desejo” é bela e fascinante por causa de sua dualidade, que inclui a dor da ausência e força de vontade na pesquisa.
“Desejo” vem do latim, formado pela preposição de (falta, ausência) e sidus (estrela).
Então, literalmente, significa “falta de estrelas”, como em “sentir a falta de estrelas”.
É precisamente essa ausência que nos impele apaixonadamente a procurar uma estrela que ilumine nosso caminho, mesmo que permaneça oculta durante a noite.
Existem muitas estrelas que preenchem o céu noturno para os artistas do teatro para a infância e juventude.
Basta verificar as milhares de declarações de intenções que costumamos encontrar em conversas e apresentações ou durante qualquer Festival ou Encontro Artístico.
Para nos conectarmos às crianças e cuidar delas por meio da Arte, acho necessário combinarmos desejo com projetos sustentáveis e políticas culturais previdentes, construindo ações concretas, sustentadas por pensamentos em movimento e projetos em desenvolvimento.
A construção de uma rede faz parte da busca de um desejo sustentável.
Uma rede é um tema dinâmico, onde podemos compartilhar um forte foco externo. Uma maneira comum de agir não é apenas útil para as intenções da Rede, mas acima de tudo, para aqueles que não são membros da Rede.
Se falamos de Teatro, isso significa crianças e jovens, mas também artistas e pessoas interessadas neles. Dentro de uma rede, os projetos costumam se cruzar, impondo um entrelaçamento contínuo de desejos com ação.
Eu acho que essa deve ser a natureza das redes ASSITEJ, como Small Size, ITYARN, IIAN e WLPG, mas espero que também seja para as redes emergentes, como a Young Dance Network.
Penso que as redes podem ser um grande recurso para o futuro do ASSITEJ.
Não há conflito entre os Centros Nacionais e Redes, pelo contrário, espero que eles se ajudem no seu crescimento, com qualidade e quantidade, colaborações e interações para projetos.
Enquanto isso, penso que as Redes podem trazer duas contribuições importantes para o futuro da nossa Associação.
O primeiro é um convite para considerar a necessidade de manter a continuidade com a identidade própria de cada um, enquanto se desenvolvem projetos específicos e caminhos sérios de pesquisa. Se as redes não alcançarem isso, perderão seu sentido em pouco tempo.
A segunda contribuição é a natureza transnacional das Redes, que considero um maravilhoso elemento de identidade, especialmente durante esses tempos de soberania e nacionalismo, que trazem o fortalecimento de fronteiras e barreiras.
Outro desejo.
Eu venho das Redes e meu vínculo com o Small Size é muito forte, por causa de sua história e, claro, por causa de seu foco, que continuo a perceber como um desafio encantador: a relação artística com os primeiros anos.
Crianças pequenas, mesmo as muito pequenas, são espectadoras de uma honestidade desconcertante.
Se elas não gostam de algo, elas não têm medo de mostrar sua impaciência.
Mas quando elas percebem que aquilo que estão experimentando é interessante, tornam-se ouvintes especiais, capazes de expressar sua curiosidade e assombro.
Em 2020, o Teatro para os Primeiros Anos é uma realidade certa.
Então, por que a Small Size precisa continuar apoiando-o e promovendo-o?
Primeiro de tudo, porque ainda é um nicho de mercado, mesmo que muitas pessoas tenham participado.
Alguns adoraram, outros apenas usaram.
Alguém ficou intrigado e descobriu sua beleza, ficando cada vez mais surpreso.
Alguém apenas fingiu estar um pouco surpreso.
Ao ter um encontro pleno com os Primeiros Anos, não é possível para um artista não ficar curioso, mas se ele não souber se surpreender, não encontrará prazer nesse desafio.
O desafio de buscar contato com seres humanos que, devido à idade, estão vivendo em outro lugar. Isso acontece nos Primeiros anos, mas também nas crianças mais velhas, como adolescentes ou jovens em geral, pois também vivem em outros lugares.
Porque cada um deles é profundamente diferente de nós, os adultos.
Continuar promovendo a Arte para crianças também é uma maneira de promover a necessidade de relações artísticas complexas com esse outro lugar.
É uma maneira de interpretar o fazer teatral para crianças e jovens.
Porque “A arte não é uma questão de idade, mas de curiosidade”, como nos lembra a 6ª edição dos “Small Size Days”, que ocorreram entre 31 de janeiro a 02 de fevereiro.
Três dias de espetáculos e eventos dedicados à primeira infância.
Um amplo programa (siga @smallsizenet no Facebook) se espalhou ao mesmo tempo em muitos países ao redor do mundo, a fim de testemunhar a importância dos primeiros anos de vida, dedicados aos Primeiros Anos e a todas as pessoas que são curiosas como eles.