Por Sue Giles
Após a Cerimônia de Encerramento do Congresso, fui a um casamento que aconteceu onde duas águas se encontram – o rio fluindo para o mar e o mar fluindo de volta para o rio. Este local é particularmente perigoso; raso e turbulento e com uma corrente enganosamente forte, e pessoas se afogaram aqui. Mas a mistura das águas neste ponto também cria a água mais rica em nutrientes – cheia de agitações e correntes subterrâneas que unem o que há de bom em ambas as águas.
É esta combinação de perigo e riqueza que torna o lugar tão poderoso – por milhares de anos é aqui que pessoas viveram, brincaram e amaram, pescaram, caçaram, coletaram e comeram, se reuniram para cantar e dançar e criar e contar histórias. Um lugar de fluxo e inconstância, e um lugar de energia.
Acabamos de vivenciar um Congresso de uma forma que nunca esperamos experimentar. Foi uma nova corrente de energia que tentou fluir com a forma tradicional de encontros e, com a mistura, abriu uma riqueza e um risco que alimentou a troca e a descoberta. Estamos enfrentando uma enxurrada de desafios, adquirindo maior consciência das lacunas e fissuras, e mais perguntas. Este é um momento de fluxo e mudança – as águas são muito turbulentas e podem parecer perigosas. Nosso senso de quem nós somos e ao que servimos é abalado e mobilizado. Temos uma noção mais forte do que está em jogo. Se também pudermos aceitar que esses tempos são cheios de riqueza e estímulo, que estamos sendo alimentados e também sendo jogados de um lado para o outro, podemos aproveitar um pouco dessa energia e criar espaço e forma para novas maneiras de fazer e ser.
Temos um novo Comitê Executivo, nos despedimos de uma presidente muito querida, estamos vivendo e trabalhando em um tempo realmente diferente para ação e conexão, e estamos enfrentando um desafio de como trabalhar e nos encontrar daqui para frente, em muitos fusos horários, sabendo muito mais sobre cada um dos nossos contextos. Há grandes coisas acontecendo no mundo: os artistas estão lutando de formas que nunca vimos antes, para sobreviver, criar, ser reconhecidos e valorizados. Há uma necessidade urgente de equidade, paridade e acesso. Nosso trabalho neste próximo mandato é assumir o que falamos no Congresso, o que testemunhamos e discutimos, e o que compartilhamos, para nos apoiarmos em ações que façam o tipo certo de diferença.
O período turbulento que tivemos para trazer um Festival e um Congresso híbridos à vida – a mistura de novos e velhos riachos, água doce e salgada – significou que estamos mais prontos para aceitar mudanças e construir juntos e nos envolver com a ASSITEJ quando isso nunca foi tão importante.
(Tradução: Cleiton Echeveste – CBTIJ/ASSITEJ Brasil)